terça-feira, 17 de julho de 2012

Rio + 20 e Cúpula dos Povos: Um balanço


Em junho de 2012 ocorreram dois encontros mundiais na cidade do Rio de Janeiro: a Rio + 20 e a Cúpula dos Povos. As duas reuniões representam a situação atual nas questões políticas, econômicas e ambientais. Foram duas manifestações de um embate que está longe de seu fim.

A Rio + 20 foi o evento oficial da ONU para avaliar os resultados de 20 anos de políticas em prol do desenvolvimento sustentável propostas na Conferência do Rio de 1992. A Cúpula dos Povos foi um evento de organizações da sociedade civil preocupadas com a questão ambiental, o combate à miséria, a degradação cultural e a luta por justiça no mundo. O formato repetiu o que ocorreu em 92, quando a ONU organizou a Conferência do Meio Ambiente (a Eco 92) e a sociedade civil realizou o Fórum Global.

Em 92, houve a entronização oficial da questão ambiental na agenda oficial do planeta. Pressionados por um movimento social intenso, foram acertados vários acordos sobre temas cruciais como biodiversidade, mudanças climáticas, combate à miséria e a luta contra a poluição e a formação de uma mentalidade ecológica na população.

Passados vinte anos, todo aquele esforço não se manifestou em ações tão fortes como as desejadas em 92. É verdade que houve um avanço grande na consciência ambiental da população como um todo. Mas muitos agentes econômicos fortes agiram para postergar a efetivação de medidas que contrariavam seus interesses imediatos.

A ONU não conseguiu se impor porque muitos dos governos mais poderosos do planeta não aderiram aos acordos propostos em 92 por conta de interesses internos. Talvez isso explique a frustração de muita gente com os resultados da Rio + 20. A meta de implantar medidas para alcançar o desenvolvimento sustentável foi adiada para 2014 e a forma de financiá-las ficou para 2015. O Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente segue como Programa e não se converteu em Agência de Meio Ambiente como muitos queriam, para ele ter mais força.

A crise econômica da primeira década do milênio fez com que mais uma vez a prioridade para as questões ambientais e sociais fosse adiada. As grandes corporações econômicas procuraram se apresentar como agentes de construção de sustentabilidade. Mas a maioria apenas faz disso uma fachada verde para ocultar seu verdadeiro objetivo de aferir grandes lucros com a continuidade do modelo concentrador de renda e consumidor da natureza que praticam.

A sociedade civil vai ter que continuar lutando para mudar essas coisas. Na Cúpula dos Povos se pôde ver que essa percepção cresce cada vez mais na formatação de uma agenda comum em prol do futuro do planeta. A Cúpula foi um evento aberto à livre participação, feito em praça pública, com poucos recursos, que foi às ruas mostrar força. Diferente da Rio + 20, que se desenrolou a portas fechadas, num lugar distante e protegida por forte esquema de segurança, como poucas vezes se viu no Brasil.

Essas duas reuniões representam bem o atual estado das coisas. Por um lado, uma elite política aliada com a elite econômica transnacional tenta continuar a controlar os destinos do mundo ao seu favor, apenas com um verniz verde para disfarçar. Por outro lado, forças populares embasadas num processo econômico solidário, buscando construir um mundo que atenda as necessidades humanas de forma justa e equilibrada, respeitando e resgatando o equilíbrio do planeta.

Um embate que ainda vai continuar por um bom tempo.

Enquanto isso, o presidente esquerdista do Paraguai foi derrubado num processo relâmpago muito estranho, e o governo brasileiro baixou para zero um imposto sobre combustíveis para manter a gasolina relativamente barata e atrasar ainda mais o domínio do álcool nos automóveis.

Sinais de que a velha ordem política e econômica segue agindo com seus velhos métodos para seguir mandando no planeta, ainda que com o sacrifício de todas as demais formas de vida.

Arno Kayser agrônomo, ecologista e escritor.


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