Em junho de 2012 ocorreram dois encontros mundiais na cidade do Rio de
Janeiro: a Rio + 20 e a Cúpula dos Povos. As duas reuniões representam a
situação atual nas questões políticas, econômicas e ambientais. Foram duas
manifestações de um embate que está longe de seu fim.
A Rio + 20 foi o evento oficial da ONU
para avaliar os resultados de 20 anos de políticas em prol do desenvolvimento
sustentável propostas na Conferência do Rio de 1992. A Cúpula dos Povos foi um
evento de organizações da sociedade civil preocupadas com a questão ambiental,
o combate à miséria, a degradação cultural e a luta por justiça no mundo. O
formato repetiu o que ocorreu em 92, quando a ONU organizou a Conferência do
Meio Ambiente (a Eco 92) e a sociedade civil realizou o Fórum Global.
Em 92, houve a entronização oficial da
questão ambiental na agenda oficial do planeta. Pressionados por um movimento
social intenso, foram acertados vários acordos sobre temas cruciais como
biodiversidade, mudanças climáticas, combate à miséria e a luta contra a
poluição e a formação de uma mentalidade ecológica na população.
Passados vinte anos, todo aquele
esforço não se manifestou em ações tão fortes como as desejadas em 92. É
verdade que houve um avanço grande na consciência ambiental da população como
um todo. Mas muitos agentes econômicos fortes agiram para postergar a efetivação
de medidas que contrariavam seus interesses imediatos.
A ONU não conseguiu se impor porque
muitos dos governos mais poderosos do planeta não aderiram aos acordos
propostos em 92 por conta de interesses internos. Talvez isso explique a
frustração de muita gente com os resultados da Rio + 20. A meta de implantar
medidas para alcançar o desenvolvimento sustentável foi adiada para 2014 e a
forma de financiá-las ficou para 2015. O Programa das Nações Unidas para Meio
Ambiente segue como Programa e não se converteu em Agência de Meio Ambiente
como muitos queriam, para ele ter mais força.
A crise econômica da primeira década do
milênio fez com que mais uma vez a prioridade para as questões ambientais e
sociais fosse adiada. As grandes corporações econômicas procuraram se
apresentar como agentes de construção de sustentabilidade. Mas a maioria apenas
faz disso uma fachada verde para ocultar seu verdadeiro objetivo de aferir
grandes lucros com a continuidade do modelo concentrador de renda e consumidor
da natureza que praticam.
A sociedade civil vai ter que continuar
lutando para mudar essas coisas. Na Cúpula dos Povos se pôde ver que essa
percepção cresce cada vez mais na formatação de uma agenda comum em prol do
futuro do planeta. A Cúpula foi um evento aberto à livre participação, feito em
praça pública, com poucos recursos, que foi às ruas mostrar força. Diferente da
Rio + 20, que se desenrolou a portas fechadas, num lugar distante e protegida
por forte esquema de segurança, como poucas vezes se viu no Brasil.
Essas duas reuniões representam bem o
atual estado das coisas. Por um lado, uma elite política aliada com a elite
econômica transnacional tenta continuar a controlar os destinos do mundo ao seu
favor, apenas com um verniz verde para disfarçar. Por outro lado, forças
populares embasadas num processo econômico solidário, buscando construir um
mundo que atenda as necessidades humanas de forma justa e equilibrada,
respeitando e resgatando o equilíbrio do planeta.
Um embate que ainda vai continuar por
um bom tempo.
Enquanto isso, o presidente esquerdista
do Paraguai foi derrubado num processo relâmpago muito estranho, e o governo
brasileiro baixou para zero um imposto sobre combustíveis para manter a
gasolina relativamente barata e atrasar ainda mais o domínio do álcool nos
automóveis.
Sinais de
que a velha ordem política e econômica segue agindo com seus velhos métodos
para seguir mandando no planeta, ainda que com o sacrifício de todas as demais
formas de vida.
Arno Kayser agrônomo, ecologista e escritor.
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