sábado, 16 de junho de 2012

Artigo - Viver a poesia do coletivo

Rodrigo Szymanski

Analisando a palavra “coletivo”, o dicionário Aurélio traz a seguinte definição: adj.1. Que forma coletividade ou provém dela. 2. Que pertence a muitos. adj. s. m.1. Diz-se de ou substantivo que, mesmo no singular, representa pluralidade. “Mesmo no singular, representa pluralidade”. Podemos olhar para esta definição como apenas gramática da língua portuguesa. Ou não. Talvez, inconscientemente, a poesia se difunde nas entrelinhas da teoria. Mas isso depende dos olhos de quem vê.

Leonardo Boff nos ensina que “todo ponto de vista é à vista de um ponto. Para entender como alguém lê é necessário saber como são seus olhos e qual a sua visão de mundo”. Para uma sociedade baseada nos valores individuais, onde reina o “cada um por si”, a poesia não faz sentido. Muito menos a poesia do coletivo. Pastoral da Juventude tem tudo a ver com coletivo e muito mais tem a ver com poesia. Vamos interpretar o “coletivo” com os olhos de quem pisa em chão Pjoteiro, pois o contexto da vida dos que assumem a “história de grupo” é o contexto da coletividade ou o “que pertence a muitos”. É impossível pensar a caminhada de Pastoral da Juventude com configurações individualistas.

Atualmente somos seduzidos a raciocinar o “eu”. Cuidado! Refletir e pensar o “eu” é necessário para vida, mas não se pode ser egocêntrico. A sociedade encanta os indivíduos a se tornarem ilhas, pensando que são auto-suficientes. Afirma o místico Thomas Merton que “homem algum é uma ilha”. Se não somos ilhas, somos “continentes”, a conexão entre diversos países, pessoas, culturas... Somos parte. Cada “eu” tecendo laços com o “outro” formando comunidade. “Qualidade daquilo que é comum”. O coletivo, no sentido poético e pejoteiro, é ser qualidade na vida em comum com os outros, formar comunidade e ser grupo. Com isso, germinamos novas formas de resistir ao sistema e “remamos contra a maré”. Novas formas? Talvez nem tão novas.

Falar da construção coletiva desta vivência comunitária é remeter a toda forma de organização social histórica. Até mesmo o diabólico mercado financeiro usa como estratégia a “junção” de capitais para sobreviver. Mas vamos pensar exemplos mais humanos e edificantes. No modelo de grupo de jovens ou comunidade de base que acreditamos, qual é o nosso arquétipo? É um só. Jesus Cristo, o Bom Pastor. Jesus, por ser Deus, poderia ser uma “ilha”. Não necessitava de nosso egoísmo – característica que lhe custou à vida.

Analisando rapidamente a vida de Jesus, encontramos a essência de nossa vivência coletiva. Ele vive em uma comunidade; por volta de seus Trinta anos forma um grupo para caminhar e partilhar a vida com Ele – onde a maioria era jovem. Os evangelhos mostram constantemente o diálogo de Jesus com os seus. Ele acolhe a todos; sem distinção. Hoje, nossa sociedade aceita acolhermos a todos? Quem são os excluídos que não aceitamos em nosso coletivo?

Viver em grupos, e talvez esta seja sua escolha - viver no coletivo PJoteiro, é ter a capacidade de conviver, de estar junto com outras pessoas. Acredito que é ai que reside o grande Mistério de ter a capacidade de partilhar a vida e romper o individualismo. Não que seja fácil conviver no coletivo, pois, se nos colocamos a disposição de estar junto com outras pessoas, precisamos entender que elas são diferentes da gente. É se abrir ao outro. É impossível formar um coletivo com pessoas que estão fechadas no seu “eu” e não possuem a capacidade de se abrir. É ai que entra a poesia do dicionário “Aurélio” quando define “coletivo”: “mesmo no singular representa pluralidade”. Mesmo que 'eu' continue sendo 'eu' nas minhas individualidades, quando me abro à experiência dos outros me torno plural com eles.

É um tanto quanto complicado compreender ou falar da vivência coletiva. Às vezes, é mais fácil vivenciar e, outras vezes, é mais fácil teorizar esta vivência, mas a poesia sempre pode auxiliar na reflexão. Poesias normalmente servem para isso, para teorizar a vivência que não pode ser teorizada.

“Eu não sou você
Você não é eu
Mas somos um grupo, enquanto
Somos capazes de, diferenciadamente,
Eu ser eu, vivendo com você e
Você ser você, vivendo comigo.”
(Pichon Riviere)

E que a experiência de viver o coletivo seja edificante. Vale a pena viver em comunidade e romper a crosta de egoísmo que a sociedade propaga. Todo seguidor do Reino aceita viver o Mistério do coletivo. Sejamos sempre continente. Nunca ilha!

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