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segunda-feira, 17 de junho de 2013
Fotos do 19º ERPJ
Confira a galeria de imagens do 19º Encontro Regional da Pastoral da Juventude (ERPJ) realizado nos dias 15 e 16 de junho na cidade de Marmeleiro, diocese de Palmas - Francisco Beltrão.
sábado, 15 de junho de 2013
Pastoral da Juventude revive seus 35 anos de caminhada no Paraná
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
CAMINHOS DA REVITALIZAÇÃO 2011 - 2015
A
Pastoral da Juventude Latino-Americana propôs um ciclo de revitalização da ação
evangelizadora jovem que vai do ano de 2011 a 2015.
“No
seguimento a Jesus, na concretização do Reino e embalada pela Missão
Continental, a Pastoral da Juventude na América Latina, convida-nos a fazermos
junto ao Mestre, através do Projeto de Revitalização – “A Vida da Juventude: Um caminho de Discipulado e Missão”, o caminho até a Jerusalém da Ressurreição. O
grande convite é: Vamos a Jerusalém! Não
chegamos a Jerusalém de uma hora para outra. Não é um momento estanque, parado.
Jerusalém é fruto de um processo pessoal e grupal. Por isso, desde 2008 nos
colocamos a caminho como seguidores”.
As
etapas seguem místicas inspiradas nos caminhos trilhados por Cristo narrados
nos evangelhos. Assim, em 2010 o lugar de inspiração foi Emaús; 2011 Belém; 2012
Nazaré; e em 2013 temos a mística de Betânia.
Para
contribuir no processo de trabalho seguindo a proposta Latino-Americana, segue
uma breve apresentação metodológica para tratarmos nos nossos planejamentos e
nos grupos de base:
2013 – MÍSTICA DE BETÂNIA
ATITUDES: VIVENCIAR/SABOREAR
OBJETIVO
- Vivenciar o dom da
fraternidade a partir do cotidiano das juventudes que buscam sair de si e
ir ao encontro do outro/a para perceber suas formas de viver e de
relacionar-se com todo o seu contexto e com o Deus da vida.
§ O cultivo da amizade no grupo nos acompanha através da vida;
§ A convivência, o sentar-se à mesa e a gratidão em estar juntos nos
constroem como pessoa;
§ A construção de outro mundo possível passa pelo encontro pessoal;
§
Crer e dar a vida pelos amigos
em momentos de dor e de morte para que façam a experiência da vida plena;
§ Visitar a casa e a familia deles para entender o mundo da juventude;
§ Criar espaços de convivência, de amizade;
§ Fomentar a vida em grupo como espaço de vida numa sociedade de
isolamento;
§ Sentar-se para escutar os/as jovens : histórias e projetos de vida;
§ Servir com alegria, acolher cada pessoa que chega, oferecendo o melhor
de nós mesmos;
§ Deixar-se ungir pelo perfume da juventude.
Alguns textos para aprofundamento
das reflexões: http://www.pjlatino.redejuventude.org.br/textos-para-aprofundamento-1
Fonte: http://www.pjlatino.redejuventude.org.br/claj
Marcadores:
Caminho para revitalização,
Pastoral da Juventude,
PJ,
Planejamento 2013.
Projeto de vida: À procura de um tesouro
“Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável” (Sêneca). Convidamos você a navegar, em algumas linhas da vida, para uma conversa sobre como temos recebido os ventos que a vida nos oferece. Que rumos minha vida tem tomado de acordo com o curso, a rota, ou melhor, conforme o projeto de minha existência?
O mundo globalizado, motivado pelos interesses pessoais, enfraquece as relações sociais, as instituições e, também, os compromissos duradouros. Nesse contexto reina o individualismo, o consumo, o prazer subjetivo de uma sociedade midiática, norteada pelos reality shows que se espalham nos meios de comunicação, baseada na imagem, no que você aparenta. Talvez por esses e outros motivos encontramos tantos(as) jovens em depressão, envolvidos(as) com a violência, o tráfico, e com o extermínio de jovens.
O mapa
Queremos
convidá-lo(a) para o desafio de navegar com um destino. Imagine que encontrou
um mapa e este o leva a navegar até um tesouro escondido em uma ilha
desconhecida. O tesouro transformará sua vida, irá organizá-la para a
felicidade e fazer com que outras pessoas sejam felizes. Contribuirá com a
organização dos diversos aspectos de sua vida, sejam eles pessoais,
profissionais, sociais, afetivos...
O tesouro escondido chama-se Projeto Pessoal de Vida (PPV). Iremos ao encontro de uma proposta que busca a profundeza do ser humano, um caminho de opções processuais e de constante discernimento. Com a certeza de tomar decisões com liberdade, responsabilidade e compromisso. Contudo um caminho dinâmico e que necessita de revisão e reelaboração, sempre que necessário. O PPV fará com que navegue por um curso reflexivo a partir do corpo (nosso ser material), do espírito (o existencial e o psíquico) e a relação com mundo interior. Na relação com essas três dimensões, teremos a possibilidade de dialogar e relacionar-se conosco mesmos(as), com o outro, o ecossistema, o transcendente, buscando o sentido e o horizonte de nossa vida.
Os passos
Decisão: momento de refletir e analisar se realmente quero ter um projeto pessoal de vida, se quero navegar contra a correnteza, com posturas diferenciadas.
Elaboração: momento de colocar a “mão na massa”, escrever minha história, para que possa ter-me em minhas próprias mãos. Descrever: Onde e como estou? Quais são os meus sonhos (pessoais, sociais, familiares, acadêmicos, profissionais...)? Que decisões e ações efetivas são necessárias para que esses sonhos se concretizem? Onde e como devo atuar no cotidiano para alcançar meus sonhos? É um momento de olhar o caminho, de fazer o encontro com você mesmo, de clarear o processo a ser feito, em vista de uma missão que propõe a doação e a entrega da vida em prol da felicidade plena - sua e dos que o cercam.
Acompanhamento: ao elaborar seu projeto de vida, é importante que escolha uma pessoa com mais idade, que tenha
O tesouro escondido chama-se Projeto Pessoal de Vida (PPV). Iremos ao encontro de uma proposta que busca a profundeza do ser humano, um caminho de opções processuais e de constante discernimento. Com a certeza de tomar decisões com liberdade, responsabilidade e compromisso. Contudo um caminho dinâmico e que necessita de revisão e reelaboração, sempre que necessário. O PPV fará com que navegue por um curso reflexivo a partir do corpo (nosso ser material), do espírito (o existencial e o psíquico) e a relação com mundo interior. Na relação com essas três dimensões, teremos a possibilidade de dialogar e relacionar-se conosco mesmos(as), com o outro, o ecossistema, o transcendente, buscando o sentido e o horizonte de nossa vida.
Os passos
Decisão: momento de refletir e analisar se realmente quero ter um projeto pessoal de vida, se quero navegar contra a correnteza, com posturas diferenciadas.
Elaboração: momento de colocar a “mão na massa”, escrever minha história, para que possa ter-me em minhas próprias mãos. Descrever: Onde e como estou? Quais são os meus sonhos (pessoais, sociais, familiares, acadêmicos, profissionais...)? Que decisões e ações efetivas são necessárias para que esses sonhos se concretizem? Onde e como devo atuar no cotidiano para alcançar meus sonhos? É um momento de olhar o caminho, de fazer o encontro com você mesmo, de clarear o processo a ser feito, em vista de uma missão que propõe a doação e a entrega da vida em prol da felicidade plena - sua e dos que o cercam.
Acompanhamento: ao elaborar seu projeto de vida, é importante que escolha uma pessoa com mais idade, que tenha
uma história e uma relação com você. Seja alguém em
quem confie e a quem você esteja disposto a entregar sua vida, sua história,
para que ele(a) possa contribuir no processo de acompanhamento e escuta do
caminho que está trilhando.
Revisão: o projeto de vida só será eficaz se for revisto de tempos em tempos, revisitado sempre que a vida passar por mudanças e, se necessário, ser elaborado levando em consideração o contexto vivido.
É necessário esclarecer que o projeto de vida pode ser feito da maneira que achar melhor, sendo criativo e simples, ao mesmo tempo. Faça da forma como seu coração mandar. Utilize apenas papel e caneta. Faça algo com fotografias, recortes, desenhos. Mescle os dois, enfim, fique à vontade!
Não podemos deixar de dizer que muitos ventos tentarão levá-lo para outros destinos. Citamos a superficialidade, a dificuldade de entrar em nossa vida, o consumo enraizado que nos faz colocar na balança os valores de nossa existência, a falta de tempo e dificuldade de ter prioridades, a falta de horizontes, a ausência de espaços para atuar e fazer acontecer o nosso projeto e a escassez de pessoas dispostas a nos acompanhar.
Os desafios gerarão em nós diversas crises. Momentos que podemos chamar de ostra, nos quais nos recolheremos para olhar fundo em nosso ser. É nessa dinâmica que serão geradas as pérolas para enriquecer a nossa vida, transformar nosso projeto e embelezar o nosso navegar. Faz-se necessário, cada vez mais, a existência de pessoas conscientes e comprometidas com a vida.
Revisão: o projeto de vida só será eficaz se for revisto de tempos em tempos, revisitado sempre que a vida passar por mudanças e, se necessário, ser elaborado levando em consideração o contexto vivido.
É necessário esclarecer que o projeto de vida pode ser feito da maneira que achar melhor, sendo criativo e simples, ao mesmo tempo. Faça da forma como seu coração mandar. Utilize apenas papel e caneta. Faça algo com fotografias, recortes, desenhos. Mescle os dois, enfim, fique à vontade!
Não podemos deixar de dizer que muitos ventos tentarão levá-lo para outros destinos. Citamos a superficialidade, a dificuldade de entrar em nossa vida, o consumo enraizado que nos faz colocar na balança os valores de nossa existência, a falta de tempo e dificuldade de ter prioridades, a falta de horizontes, a ausência de espaços para atuar e fazer acontecer o nosso projeto e a escassez de pessoas dispostas a nos acompanhar.
Os desafios gerarão em nós diversas crises. Momentos que podemos chamar de ostra, nos quais nos recolheremos para olhar fundo em nosso ser. É nessa dinâmica que serão geradas as pérolas para enriquecer a nossa vida, transformar nosso projeto e embelezar o nosso navegar. Faz-se necessário, cada vez mais, a existência de pessoas conscientes e comprometidas com a vida.
Verbo ser
(Carlos Drummond de Andrade)
(Carlos Drummond de Andrade)
Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa,
E cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.
E cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.
Raquel
Pulita Andrade Silva,
Comissão Nacional de Assessores(as) da Pastoral da
Juventude e Analista Pastoral da Província Marista Brasil Centro-Norte.
Endereço eletrônico: rp0706@gmail.com
e
Joaquim Alberto Andrade Silva,
assessor da Equipe Nacional do Teias de Comunicação da Pastoral da Juventude, analista da UMBRASIL.
Endereço eletrônico: joaquimaasilva@gmail.com
Endereço eletrônico: rp0706@gmail.com
e
Joaquim Alberto Andrade Silva,
assessor da Equipe Nacional do Teias de Comunicação da Pastoral da Juventude, analista da UMBRASIL.
Endereço eletrônico: joaquimaasilva@gmail.com
Artigo publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº
413, fevereiro de 2011, página 7.
Fonte: http://www.pj.org.br/artigos/37
Marcadores:
Pastoral da Juventude.,
PJ,
Projeto de Vida
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
“Belo Monte é de todo inaceitável e ilegal e nunca deixa de ser'', diz dom Erwin Krautler
“A alegria de ser chamado a
servir a Deus, levando o seu amor às pessoas e a todos os povos (cf. AG 10),
ninguém pode arrancar do coração de quem exerce uma missão que tem sua base e
motivação no Evangelho”. É com esta declaração que dom Erwin Krautler, bispo da
Prelazia do Xingu, resume sua atuação no Brasil há mais de 40 anos,
evangelizando sua comunidade.
Nesta caminhada, ele esteve
engajado em diversas causas, entre elas, a mais recente, em oposição à
construção da hidrelétrica de Belo Monte. “Como bispo tenho que conviver com
diversos pontos de vista e tolerar, às vezes mesmo a contragosto, posições
opostas à minha. Em momento algum isso significa abrir mão do credo que
professo e da posição contra Belo Monte que sempre assumi e continuo
sustentando, considerando-o uma insanidade. Infelizmente não existe meio termo.
Belo Monte é de todo inaceitável e ilegal e nunca deixa de ser”, disse o bispo
à IHU On-Line.
Na entrevista a seguir,
concedida por e-mail, dom Erwin comenta a atual situação de Altamira desde a
construção da hidrelétrica de Belo Monte e acentua o comportamento dos povos
indígenas que vivem próximos ao canteiro de obras. “Aí se percebe nitidamente
que a Norte Energia usa de todos os meios para calar os indígenas e impedir que
se manifestem. Recebem cestas básicas, voadeiras, combustível, benefícios que
nunca imaginaram. Como explicar-lhes que esses presentes são um cavalo de Troia
e aceitá-los significa dar um tiro no próprio pé?”, questiona.
Ele conta que após a
eleição de Dilma tentou agendar uma reunião com a presidente, mas ao ouvir o
discurso de Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da
Presidência da República, a favor de Belo Monte, desmarcou o encontro. “O que
ainda iria fazer no gabinete do ministro? Trocar amenidades e posar para fotos?
Já que a declaração do ministro revelou toda a intransigência do governo, eu
mesmo cancelei a audiência”, lamenta.
A dois anos de tornar-se
bispo emérito, dom Erwin diz que isso “não significa ‘entregar os pontos’. Meu
empenho em favor da dignidade e dos direitos dos povos indígenas, dos
ribeirinhos, das mulheres, das crianças, dos jovens, dos expulsos de casa e
terra, dos agredidos e machucados, enfim, de todos os ‘excluídos do banquete da
vida’ e minha defesa do meio ambiente, o ‘lar’ que Deus criou para todos nós,
vão continuar enquanto Deus me der o fôlego”.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que avaliação faz da caminhada de luta em oposição a
Belo Monte e aos projetos de infraestrutura na Amazônia durante os últimos
anos?
Dom Erwin Krautler –
Por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
Rio+20, o movimento Xingu Vivo para Sempre convocou indígenas, pescadores,
ribeirinhos, movimentos sociais, estudantes e acadêmicos, ativistas e
defensores do Xingu para comemorar os 23 anos que se passaram desde o Primeiro
Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (20 a 25 de fevereiro de 1989) em
Altamira. O evento foi chamado de “Xingu+23“ em analogia ao “Rio+20“ e quis
lembrar a primeira grande vitória contra o projeto de barramento do rio Xingu
que naquele tempo levou o nome de Kararaô, um grito de guerra do povo Kayapó, o
povo indígena mais numeroso do Xingu. Na realidade, a luta contra o projeto é
bem mais antiga e começou já nos anos 1970 quando os militares cogitaram a
construção de seis grandes usinas ao longo do rio Xingu: Jarina, Kokraimoro,
Ipixuna, Babaquara, Kararaô e Iriri. O Encontro dos Povos Indígenas em 1989
tornou a rejeição do projeto da parte dos indígenas apenas mais visível e
chamou a atenção do Brasil e da comunidade internacional para o planejado golpe
no coração da Amazônia.
Ironia da história
Ironia da história: Lula,
que elegemos porque acreditávamos que outro Brasil fosse possível, pouco depois
de tomar posse tirou o projeto das gavetas, desconsiderando o que durante a
campanha eleitoral havia falado nos palanques sobre a Amazônia. Passou a
defender o que antes severamente criticou e a considerar o projeto hidrelétrico
no Xingu essencial para o progresso, vaticinando o colapso total da economia do
país caso não seja concretizado. Substituiu-se apenas o nome de Kararaô por
Belo Monte para ninguém mais lembrar o facão da Tuíra e os índios de 1989
pintados de urucum e jenipapo.
Não acredito que haja no
Brasil outro movimento de luta em defesa do meio ambiente contra um megaprojeto
governamental com uma história tão longa. Alguém talvez venha retrucar: “Mas,
infelizmente, lutaram em vão, já que o projeto está sendo executado a pleno
vapor e, depois de já ter gasto bilhões de reais, dificilmente o governo vai
recuar!“ De fato, a cada dia que passa mais explosões ensurdecedoras atormentam
a população no entorno do canteiro de obras. A cada dia que passa mais
destruição se alastra pela região. A ensecadeira se estende rio adentro e o
desmatamento avança nas ilhas e na terra firme da Volta Grande do Xingu. Mas,
mesmo assim, nada de enrolar a bandeira! Sabemos que Belo Monte não é a única
barragem planejada no Xingu. Nossa luta tem também por objetivo evitar que o
antigo projeto dos militares seja desenterrado na sua totalidade.
Quantos cientistas e
especialistas não alertaram o governo que o Xingu durante três ou quatro meses
no ano não terá o volume d’água suficiente para rodar uma única turbina sequer?
Muitos! E todo mundo sabe que é economicamente absurdo deixar sem funcionar as
turbinas que são a parte mais cara de todo o empreendimento. A solução reside
em mais barramentos rio acima como já foi previsto no projeto dos militares,
com impactos mais desastrosos ainda que a própria Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Esse projeto de mais barragens é tratado como segredo de estado. Habilmente se
evita toda a discussão em torno deste espectro que então sacrificará todo o rio
Xingu com consequências não só para Altamira, mas também para todas as vilas
ribeirinhas e áreas indígenas nas margens do rio, chegando a atingir até a
cidade de São Félix do Xingu.
Cruzar os braços
Outro motivo de não
cruzarmos os braços são os mais de cinquenta (50!) processos que correm na
Justiça brasileira e internacional denunciando violações da Constituição
Federal e de tratados internacionais de que o Brasil é signatário. São ações
movidas pelo Ministério Público Federal, pela Defensoria Pública Estadual do
Pará como por entidades da sociedade civil, entre estas o Conselho Indigenista Missionário
– CIMI, organismo vinculado à CNBB. Estes processos estão, em parte há anos,
sem a Justiça tomar nenhuma providência. Quais são os reais motivos desta
morosidade? Omissão ou negligência são inaceitáveis num Estado que se diz
democrático e de Direito.
Finalmente, enquanto não
forem cumpridas todas – todas mesmo! – condicionantes exigidas pelo Ibama e
pela Funai como requisitos para dar início à construção de Belo Monte, não
deixaremos de denunciar a ilegalidade da obra.
IHU On-Line – Quais as principais alegrias e desafios de ser um
líder religioso em uma região como a do Xingu, onde a comunidade e a Igreja
estão divididas por causa de Belo Monte?
Dom Erwin Krautler – A
alegria de ser chamado a servir a Deus, levando o seu amor às pessoas e a todos
os povos (cf. Ad Gentes 10), ninguém pode arrancar do coração de quem exerce
uma missão que tem sua base e motivação no Evangelho. Esta missão não se
restringe a um mero anúncio de verdades. Evangelizar implica primeiramente no
testemunho de uma fé arraigada na Palavra de Deus e na convicção de que esse
mesmo Deus é um Deus que anda conosco pelas estradas e rios de nossa vida.
Evangelizar é estar continuamente a serviço deste Deus, consagrando a vida a
Ele e a seu Povo, e isso sem medir esforços e alegar cansaço. “Amou-os até o
fim” lemos no Evangelho de São João para introduzir o episódio do lava-pés (Jo
13,1).
Evangelizar não exclui o
diálogo aberto, franco, respeitoso. Um monólogo autoritário é antievangélico
quando tenta arrasar com quem tem outra visão do mundo e condenar ao inferno a
quem não reza pela nossa cartilha. Como bispo tenho que conviver com diversos
pontos de vista e tolerar, às vezes mesmo a contragosto, posições opostas à
minha. Em momento algum isso significa abrir mão do credo que professo e da
posição contra Belo Monte que sempre assumi e continuo sustentando,
considerando-o uma insanidade. Infelizmente não existe meio termo. Belo Monte é
de todo inaceitável e ilegal e nunca deixa de ser. A decisão tomada pelos
governos Lula e Dilma de construir Belo Monte é imperdoável porque nunca haverá
uma chance mínima de reparar os erros monstruosos cometidos. Ao inaugurar Belo
Monte teremos alcançado um ponto sem retorno. Em outras palavras: não adiantará
mais chorar o leite derramado.
O cenário mudou
A Igreja, como o povo do
Xingu em geral, está dividida na avaliação de Belo Monte. No entanto, os que
defendem o projeto já não estão mais tão eufóricos como anos atrás quando
colaram adesivos “Queremos Belo Monte” em seus carros. Os adesivos desapareceram.
Os que aprovam o projeto, o fazem hoje com reservas e muitas exigências. Os
políticos há tempo desceram de seus palanques porque esgotaram os argumentos
bombásticos em favor do “progresso” que só Belo Monte seria capaz de trazer
para a região. Ensacaram a viola. Aliás Belo Monte nem sequer foi tema nos
comícios da última campanha eleitoral. Os candidatos bem sabiam por que
evitaram falar em Belo Monte. Iriam levar estrondosas vaias. Incrível com que
rapidez o cenário mudou. A tendência é que, na medida em que a obra avança, o
povo está se dando conta de que, até agora, nada ou muito pouco do que foi
prometido está sendo cumprido. Altamira, uma cidade de mais de 120 mil
habitantes, está mergulhado num tremendo caos. Os operários contratados pela
empresa CCBM logicamente apreciam ter encontrado emprego, se bem que seja
temporário. Mesmo assim há frequentes manifestações de insatisfação. Há até
operário preso. Com toda razão exigem melhores condições de trabalho e salários
que permitam enfrentar a inadmissível carestia que impera em Altamira.
As feições do povo que
frequenta as Igrejas em Altamira mudaram. Entre as (os) fiéis tradicionais
aparecem muitos rostos novos. São homens e mulheres, casais e famílias, que
vieram de outros estados e trabalham nas empresas ligadas à construção de Belo
Monte. Querem participar das celebrações e iniciativas de sua Igreja e tem todo
o direito de fazê-lo, mas é óbvio que não se manifestam contra Belo Monte ou
criticam o projeto, pois provavelmente correriam o risco de perder o emprego.
Enalterado, também dentro
da Igreja, ficou o grupo que categoricamente rejeita Belo Monte. Embora sejam
poucas pessoas em relação à grande massa que é indecisa e opta por uma posição
de aguardar “para ver como é que fica“, essa parcela do Povo de Deus mais ativa
e combatente não se deixa intimidar nem por ameaças, nem por calúnias,
difamações e outros tipos de perseguição.
IHU On-Line – Irmã Ignez Wenzel comentou sobre a desarticulação
entre as comunidades indígenas por conta das obras. Quais são as razões desse
comportamento? Pesquisadores, antropólogos e religiosos estão mais preocupados
com a questão indígena do que os próprios índios?
Dom Erwin Krautler – A
questão é complexa. É perigoso generalizar, afirmando que os indígenas estão
menos preocupados. Do mesmo jeito como em toda a sociedade do Xingu (do Brasil
e do mundo), há também entre os indígenas diferentes posições em relação a Belo
Monte. Religiosos, antropólogos, professores e outros profissionais conhecem
talvez melhor os meandros e as propostas insidiosas do sistema neoliberal que
está na base do “desenvolvimentismo” que confunde desenvolvimento com
crescimento meramente econômico, multiplicação de riqueza material, incremento
do PIB, expansão do agronegócio, aumento de produção de biocombustíveis. Os
indicadores sociais são colocados em um plano inferior. A defesa do meio
ambiente não passa de recheio nos discursos da presidente em Brasília para
impressionar quando fala na ONU e em outras oportunidades no exterior como há
poucos dias em Paris.
Essa realidade os
indígenas, pelo menos os velhos caciques, certamente nunca estudaram e por isso
não se dão conta do perigo que correm. No sistema vigente, o que importa é
produzir, lucrar, tirar vantagem, consumir. O “ter“ triunfa sobre o “ser“. Esse
sistema é cruel e diametralmente oposto ao que os indígenas andinos chamam de
Sumak Kawsay (ou “Bem Viver“). É um câncer que dissemina metástases em todo o
tecido social. E é uma ilusão pensar que os povos indígenas sejam imunes contra
este câncer. Todo o nosso empenho e acompanhamento visam ajudá-los a evitar a
contaminação.
Posições
Os Kayapó do Alto Xingu,
sob a liderança do cacique-patriarca Raoni Metuktire, rejeitam qualquer
barragem do rio. É para eles uma questão fechada. Só que Belo Monte é geograficamente
muito distante de suas aldeias e essas, na primeira fase da construção do
complexo hidrelétrico do Xingu, não serão impactadas diretamente. Por isso os
Kayapó do Alto Xingu não mais se manifestaram de modo tão contundente como
antes o fizeram quando Raoni mesmo veio a Altamira para prestigiar eventos
contra Belo Monte.
Outra é a situação dos
povos que vivem mais próximos ao canteiro de obras. Aí se percebe nitidamente
que a Norte Energia usa de todos os meios para calar os indígenas e impedir que
se manifestem. Recebem cestas básicas, voadeiras, combustível, benefícios que
nunca imaginaram. Como explicar-lhes que esses presentes são um cavalo de Troia
e aceitá-los significa dar um tiro no próprio pé? Quem antes foi tratado como
pária e de repente avança para padrões de príncipe, dificilmente entende uma
advertência de que essas regalias são prejudiciais a ele e a seu povo. Na
realidade, o dinheiro fácil corrói a sociedade indígena, corrompe lideranças,
destrói a organização interna de um povo, faz os índios perder a sua
identidade. Tem sistema atrás disso. Quando os indígenas “deixam de ser
indígenas“ perdem também suas terras ancestrais, cobiçadas desde sempre pelas
mineradoras, pelos madeireiros e latifundiários. Chamo essa investida contra os
índios de “auricídio“ (do latim aurum: ouro).
Matam-se os indígenas com
dinheiro, entopem-se-lhes as gargantas com dinheiro a ponto de não mais poderem
gritar, implanta-se um consumismo desenfreado no seio das comunidades e
exterminam-se deliberadamente os valores e a sabedoria milenar de um povo. E o
pior é que se afirma em alto e bom som que tudo é feito “em favor dos índios
para tirá-los finalmente da era da pedra lascada“. Através do dinheiro se tenta
ressuscitar os parâmetros das antigas constituições brasileiras que defendiam
“a incorporação dos silvícolas à comunhão nacional“, programa etnocida que
achávamos definitivamente superado com a Constituição de 1988.
IHU On-Line – O senhor voltou a dialogar com o governo na
tentativa de paralisar Belo Monte? Como vê, nesse sentido, a atuação do
Ministério Público Federal, que por vezes determina a paralisação da obra?
Dom Erwin Krautler – Já em
outubro 2009 percebi que o presidente Lula, embora tenha insistido em continuar
o que chamou de diálogo, na realidade não estava nada interessado em discutir
Belo Monte. Aliás o “diálogo“ de que ele falou não passou de encenação. Tentei
ainda um encontro com a Dilma. Fui informado que Gilberto Carvalho,
ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, estaria
disposto a receber-me em audiência. Mas poucos dias antes da data marcada para
a audiência ele discursou num encontro das pastorais sociais da CNBB e declarou
que Belo Monte era irreversível e irrevogável. O que ainda iria fazer no
gabinete do ministro? Trocar amenidades e posar para fotos? Já que a declaração
do ministro revelou toda a intransigência do governo, eu mesmo cancelei a
audiência.
E o papel do Ministério
Público Federal? Das 15 ações judiciais contra ilegalidades no licenciamento da
construção de Belo Monte, encaminhadas pelo Ministério Público Federal, apenas
uma transitou em julgado. Este balanço revela a “importância“ que é dada hoje a
este órgão de defesa dos direitos constitucionais do cidadão. Às vezes me dá
até dó ver o esforço de nossos Procuradores da República. Será que não se
sentem supérfluos e inúteis dentro do poder Judiciário, que não aprecia o seu
empenho, engavetando sistematicamente as ações elaboradas com esmero e
competência?
IHU On-Line – Como o senhor vê a discussão acerca da mineração no
Norte e Nordeste? É possível dizer que Belo Monte servirá para facilitar a
mineração?
Dom Erwin Krautler –
Respondo com a pesquisadora Telma Monteiro, que colabora com o Xingu Vivo para
Sempre e quem estimo muito. Num artigo publicado no Correio da Cidadania
(11-09-2012) ela adverte que “a implantação do projeto da hidrelétrica Belo
Monte é a forma de viabilizar definitivamente a mineração em terras indígenas e
em áreas que as circundam, em particular na Volta Grande, trecho de mais de 100
quilômetros que vai praticamente secar com o desvio das águas do Xingu. E é
justamente nas proximidades do barramento principal, no sítio Pimental, que
está sendo montado o maior projeto de exploração de ouro do Brasil, que vai
aproveitar o fato de que a Volta Grande ficará seca por meses a fio com o
desvio das águas do rio Xingu“. Critica ainda: “Incrível como, além das
hidrelétricas, os projetos de mineração, na visão do governo federal e do
governo do Pará, também se tornaram a panaceia para solucionar todos os
problemas não resolvidos de desenvolvimento social. Papel que seria obrigação
do Estado, com o dinheiro dos impostos pago pelos cidadãos de bem“. Sempre o
mesmo lero-lero que já estamos cansados de ouvir: os problemas sociais da
Amazônia só poderão ser solucionados se, de mãos beijadas, a lotearmos e
entregarmos lote por lote a empresas estrangeiras. Desta vez a felizarda é a
Belo Sun Mining Corporation com sede em Toronto, Canadá, que em breve auferirá
lucros astronômicos rindo da cara dos brasileiros. E ainda há quem brada que a
“Amazônia é nossa“ e repete o discurso de Lula em 2007: “Precisamos dizer que
somos os donos da Amazônia e que sabemos cuidar das nossas florestas, da nossa
água, não precisa ninguém dar palpite”. Quem são realmente os donos? Sabemos
realmente cuidar das nossas florestas, da nossa água? Não seria mais correto
chorar desde já a mãe Amazônia pois ela foi vendida ao grande capital para ser
violentada sem escrúpulos até morrer de inanição!
IHU On-Line – Daqui dois anos o senhor enviará ao Papa o pedido de
renúncia, conforme denomina o Direito Canônico. O senhor já faz planos para os
próximos anos? Pretende continuar na região do Xingu?
Dom Erwin Krautler – O
Cânone 401 § 1 do Direito Canônico reza que o bispo “que tiver completado
setenta e cinco anos de idade, é solicitado a apresentar a renúncia do ofício
ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará
providências“. Em outra palavras: é o Papa que decide se aceita logo a renúncia
ou se pede ao bispo continuar por mais algum tempo. Não fiz nenhum plano para
“o dia seguinte“, mas tornar-se bispo “emérito“, logicamente não significa
“entregar os pontos“. Meu empenho em favor da dignidade e dos direitos dos
povos indígenas, dos ribeirinhos, das mulheres, das crianças, dos jovens, dos
expulsos de casa e terra, dos agredidos e machucados, enfim, de todos os
“excluídos do banquete da vida“ e minha defesa do meio ambiente, o “lar“ que
Deus criou para todos nós, vão continuar enquanto Deus me der o fôlego.
IHU On-Line – Como é para o senhor viver no Brasil, especialmente
num estado em que há milhares de problemas sociais, ambientais, numa conjuntura
completamente diferente da sua origem?
Dom Erwin Krautler –
Cheguei a Altamira em dezembro de 1965, ainda jovem. A decisão pelo Xingu foi
uma decisão pessoal. Os superiores religiosos apenas concordaram e me deram luz
verde. Jamais me arrependi de ter feito esta opção. O Xingu tornou-se minha
terra, o chão em que vivo a minha vida. Não nego as minhas raízes e não deixei
de amar o país da minha família e de meus antepassados, mas nunca cultivei
saudosismos para com a terra onde nasci, avaliando o que na Áustria estaria
melhor ou analisando a conjuntura de lá, comparando-a com os problemas que aqui
enfrentamos.
Tempos atrás redigi uma
mensagem que muitas vezes já foi usada em celebrações de envio de missionárias
e missionários. Esse texto traduz o que ser missionário sempre significou para
mim:
“Vai meu irmão, minha irmã!
Lá, em tua nova missão, em tua nova terra, em tua nova pátria, anunciarás Jesus
Cristo e o seu Evangelho. Servirás aos pobres, aos excluídos do banquete da
vida, lavando-lhes os pés. Falarás com quem nunca andou ou não anda mais
conosco.
Aproximar-te-ás com muito
carinho a um povo com cultura e tradições diferentes. Chegando lá, estranharás,
sem dúvida, os costumes e usos locais. Mas, não imporás as tuas ideias! Não
apresentarás o país que te viu nascer como paraíso! Não dirás nunca que no
lugar onde te criaste, as coisas estão bem melhores!
Não darás nunca a impressão
de que vieste para ensinar, para civilizar, para instruir, para colonizar!
Jamais violentarás a alma do povo que, doravante, será o teu povo!
Oferecerás simplesmente o
testemunho de tua fé, de tua esperança e de teu amor, e darás a tua vida até o
fim, até as últimas consequências! Assim, tu terás o privilégio e a felicidade
de viver a graça de todas as graças: encontrarás o Senhor que disse: 'Depois
que eu ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia' (Mc 14,28). Missão é
sempre ir à Galileia, às Galileias de todos os continentes!“
IHU On-Line – Depois de todos esses anos na região, qual foi a
luta mais difícil na sua trajetória?
Dom Erwin Krautler – Sempre
lembro com carinho nosso empenho em 1987-1988 durante a Assembleia Nacional
Constituinte para que os direitos indígenas fossem inscritos na Constituição da
República. Foi uma luta sem tréguas, mas os povos indígenas e nós, os seus
aliados, saímos vitoriosos. Para quem quiser conferir, há um capítulo
específico na Carta Magna do País que fala “Dos Índios“ (Art. 231 e 232). Essa
luta, porém não terminou. Trata-se de concretizar o que está escrito aí.
A luta mais desgastante, no
entanto, é sem dúvida a que travamos contra a hidrelétrica Belo Monte, que já
dura tantos anos.
IHU On-Line – Estamos na época do Advento. O que esta época de
natividade, como nascimento de Jesus, pode trazer de reflexão para os dias de
hoje, para os governantes, especialmente em relação a Belo Monte?
Dom Erwin Krautler – Eu não
sei se o sentido profundo do Advento e Natal mexe com o coração de nossos
governantes, ministros e outros membros do governo. Talvez nem falem mais em
Natal. Preferem substituir a lembrança do Nascimento de Jesus com um termo mais
secularizado: “Festas de Fim de Ano“. E muito menos sei se esta gente, ouvindo
eventualmente o “Noite Feliz“, se lembra das famílias expulsas de suas terras
por causa de Belo Monte. Essas famílias não experimentam nada de noite feliz,
enquanto os responsáveis pela sua desgraça se banqueteiam em confraternizações
com as mais finas iguarias, regadas a bebidas seletas.
IHU On-Line – O que a experiência de Jesus Libertador pode ensinar
e inspirar a prática cristã de hoje?
Dom Erwin Krautler –
Responder a essa pergunta equivaleria a uma dissertação sobre os fundamentos e
toda a história da Teologia da Libertação e sua contribuição valiosa para a
Igreja na Amazônia, especialmente para as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs,
que continuam sendo o chão concreto em que esta forma de reflexão teológica até
hoje está dando seus frutos e que gerou seus mártires. Precisaria também
desmontar todos os mal-entendidos a respeito desta teologia, disseminados pelo
Brasil e mundo afora, especialmente em ambientes em que se fecham os olhos e se
tapam os ouvidos diante das injustiças de um sistema desumano, excludente,
opressor e de violências estruturais que causam a morte de tantos homens,
mulheres e crianças e do meio ambiente em que vivem.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Dom Erwin Krautler – Sim,
votos de um abençoado Advento e Santo Natal do Senhor. Que Deus nos conceda sua
graça e paz, neste Natal, durante o Ano Novo e sempre.
Fonte: Revista IHU On-Line e CIMI
Disponível em http://cnbb.org.br/site/imprensa/noticias/11064-belo-monte-e-de-todo-inaceitavel-e-ilegal-e-nunca-deixa-de-ser-diz-dom-erwin-krautler
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Papa: "Viver o Natal com a humildade de Nossa Senhora"
A
audiência geral desta quarta-feira, 19 de dezembro, realizou-se na Sala Paulo
VI. Nesta III semana do tempo de Advento, o Papa apresentou aos fiéis uma
reflexão sobre a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação.
Bento XVI começou lembrando que o anjo convidou a Virgem a se
alegrar, chamando-a “cheia de graça”. Tal saudação anuncia o fim da tristeza
que existe no mundo diante dos limites da vida, do sofrimento, da morte, da
maldade, das trevas do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. “É
uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova” – prosseguiu o
Pontífice.
“A fonte da alegria de Maria é a graça, a comunhão com Deus. Ela é
a criatura que, mediante sua atitude de escuta da palavra e da obediência,
abriu de modo único as portas a seu Criador, colocando-se em suas mãos, sem
limites”.
“Assim como Abraão, Nossa Senhora também confiou plenamente na
divina Palavra, convertendo-se em modelo e mãe de todos os cristãos. E do mesmo
modo, sua fé também incluiu um momento de incerteza - as trevas da crucificação
de seu Filho – antes de chegar à luz da Ressurreição”.
O Papa explicou que o mesmo ocorre no caminho de fé de cada um de
nós: existem momentos de luz e passagens onde parece que Deus está ausente; seu
silêncio pesa em nossos corações e sua vontade não corresponde à nossa. “Mas –
ressalvou Bento XVI – quanto mais nos abrirmos a Deus, acolhermos o dom da fé e
depositarmos Nele a nossa confiança – como fizeram Abraão e Maria – mais Ele
nos ajudará a viver as situações da vida em paz e com a certeza de sua
fidelidade e de seu amor. Isto acarreta que saiamos de nós mesmos e de nossos
projetos e deixemos que a Palavra de Deus seja a lâmpada que guie nossos
pensamentos e ações”.
“A fé sólida de Maria foi possível graças à sua atitude constante
de diálogo íntimo com a Palavra de Deus, à sua humildade profunda e obediente,
que aceitou tudo, até o que não compreendia da ação de Deus” – recordou o Papa.
Finalizando, Bento XVI disse que a solenidade do Natal nos convida
a viver esta mesma humildade e obediência de fé. “A glória de Deus não se
manifesta no triunfo e no poder do Rei, não resplandece numa cidade famosa, num
suntuoso palácio, mas habita no ventre de uma virgem, se revela na pobreza de
um menino”.
Como faz todas as quartas-feiras, Bento XVI leu aos fiéis breves
resumos de sua catequese em várias línguas, inclusive português. Estas foram as
suas palavras:
“No caminho do Advento, ocupa um lugar especial a Virgem Mãe, que
acolheu na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus. N’Ela vemos a criatura que, de
modo incomparável, abriu de par em par as portas ao seu Criador, submetendo-Se
livremente à vontade divina na obediência da fé: adere com plena confiança à
palavra que Lhe anuncia o Mensageiro de Deus. E este «sim» de Maria à vontade
divina repete-se ao longo de toda a sua vida até ao momento mais difícil: o da
Cruz. Ela não se contenta com uma percepção imediata e superficial do que
sucede na sua vida, mas entra em diálogo íntimo com a Palavra de Deus e
deixa-se interpelar pelos acontecimentos, procurando a compreensão que só a fé
pode garantir. Maria acolhe mesmo aquilo que não compreende do agir divino,
deixando que seja Deus a abrir-Lhe o coração e a mente. Assim se tornou modelo
e mãe de todos os crentes. Pela sua fé, todas as gerações A chamarão
bem-aventurada”.
“Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga
para todos, com votos de um santo Natal de Jesus no coração e na família de
cada um, pedindo a mesma humildade e obediência da fé de Maria e José, que vos
faça ver, na força indefesa daquele Menino, a vitória final sobre todos os arrogantes
e rumorosos poderes do mundo. Bom Natal!”.
Antes de se despedir dos fiéis, o Papa concedeu a todos a sua
bênção. A próxima audiência geral de Bento XVI com os fiéis será em 2 de
janeiro de 2013.
Fonte: http://web.cnbb.org.br/site/imprensa/noticias/11046-papa-qviver-o-natal-com-a-humildade-de-nossa-senhoraq
ENTREVISTA COM DOM PEDRO CASALDÁLIGA PELO “QUEM TEM MEDO DA DEMOCRACIA?”
“Quando fomos investigados, a Polícia
Federal me parou e perguntava sobre socialismo. Eu dizia: se querem falar de
socialismo, vamos falar de socialização. Se não se socializa a terra do
campo e a terra urbana. A saúde, a educação, a comunicação… Se não se socializa
esses bens essenciais… Não haverá paz.”, sinalizou o bispo para quem “toda a
verdadeira política se devia dedicar a humanizar a humanidade.”
A voz é
baixa, o corpo já não permite lutar no front, mas a lucidez do catalão D. Pedro
Maria Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, é capaz
de constranger. Por várias vezes quase assassinado, devido à sua opção
pela defesa dos pequenos e o conflito com os grandes, D. Pedro ainda recebe
ameaças.
O QTMD?
viajou ao Araguaia para ver e ouvir de perto um pouco da história deste
homem que optou por viver “descalço sobre a
terra vermelha”. “’Descalço’ quer dizer sem consumismo. ‘Sobre a
terra vermelha’. Uma terra ensopada de suor,… Mas também ensopada de sangue”,
definiu Casaldáliga.
Para ele,
todos os partidos e governos têm três dividas com o povo: A da
Reforma Agrária – reforma que “não há, não há, não há…”, a da Causa Indígena –
“os índios sobram frente ao agronegócio” – e a dos Pequenos Projetos – “a
obsessão pelos grandes projetos é marca do governo atual”.
O bispo,
que enfrentou a repressão do regime militar, lembrou que “Jesus enfrentou as
forças do Império Romano”, e falou sobre Comissão da Verdade, lamentando a
falta de punição aos torturadores: “A memória histórica tem que servir de
lição”, sublinhou.
Recebido por tochas
“Eu
cheguei em 1968 ao Rio de Janeiro (onde ficou cerca de 4 meses). Saímos de
Madrid a 11 graus abaixo de zero e chegamos ao Rio de Janeiro a 38. Tinha
aquelas tochas do aeroporto para a cidade. Umas tochas acesas… Eu ainda estou
vendo… Aquele calor, com aquelas tochas… Passamos uma noite sem dormir.”
“Há muitos Brasis”
“E depois,
em Petrópolis, eu fiz um curso que tem a Igreja Católica no Brasil para
missionários que vêm de fora. Para estudar a língua e ter uma noção de história
do país. Da Igreja no país. E foi providencial. Porque, na época da ditadura
militar, se tivéssemos chegado diretamente, da maneira como nós chegamos
(foto), para São Félix do Araguaia… Nós estaríamos perdidos. Completamente
despistados, sem saber da situação verdadeira… As causas da situação. As
migrações: por que motivo? A história do país. Que há muitos Brasis…”.
Sete dias de caminhão
“Foram
quase sete dias de caminhão de São Paulo até aqui (São Félix do Araguaia).
Porque a estrada estava se abrindo, não tinha estrada. As pontes eram pequenas.
Tinha muitos córregos… Agora, quando se faz o caminho de Barra do Garças para
cá, não se tem nem idéia de como era a região.”
“Cadê a mata do posto?”
“Está tudo
desmatado. Os córregos todos profanados, alguns deles secos já perderam toda a
vitalidade. Tinha mata… Se fala do Posto da Mata… Cadê a mata do posto?”
“Terra de ninguém”
D. Pedro
Casaldáliga chegou ao Brasil em janeiro de 68, portanto antes do AI-5 (que foi
em dezembro do mesmo ano), mas garante: “já era clima de ditadura tensa”. E São
Félix do Araguaia era, segundo ele, “um lugar onde o Estado não estava
presente. Terra de ninguém.”
“Conflito com a política oficial”
D. Pedro
lembra que, em 68, “começavam a vir as grandes fazendas com os incentivos
fiscais da SUDAM.” E prossegue: “Automaticamente, para nós, a convivência com
os pobres, pelo povo e pelos pequenos, significava entrar em conflito com o
latifúndio. Entrar em conflito com a política oficial.”
“Estavam de um lado os índios, os posseiros,
os peões… Do outro, os fazendeiros, a polícia, o Exército, o governo, o Estado…
Logo, quase bem do início, já percebemos que a luta seria essa. Se nos
posicionávamos do lado do povo, entrávamos em conflito com a política oficial.”
A guerrilha
“Aqui não teve guerrilha. A
guerrilha foi no sul do Pará e no norte de Goiás. Só que para a repressão nós
éramos guerrilha. Porque não conseguiam entender que uns estrangeiros se
enfronhassem nesse mundo onde não tinha comunicação de jeito nenhum.
Infraestrutura nenhuma… E rapazes novos que deixassem os estudos, o emprego e
viessem para cá para não ganhar nada praticamente, só podiam ser guerrilheiros
ou respaldo da guerrilha. Por isso, tivemos a repressão em cima… Sempre.”
“Diálogo de surdos”
“Foram
presos muitos agentes de pastoral. Torturados. As presidências da CNBB foram
muito solidárias conosco. E tivemos possibilidade de discutir com as
autoridades por esse respaldo da CNBB. Só que era um diálogo de surdos.”
“Veio, em
1972, o ministro da Justiça da época. (Alfredo) Buzaid, ministro da Justiça
(governo Médici). Estive com ele. Discutimos… Ele prometia o que não queria
dar. Se impressionou no máximo pelo início da Reforma Agrária. Pelos sucessos
de Santa Terezinha dentro da região.”
“Um grito!”
“E no dia da minha
sagração (foto), lançamos uma carta pastoral. “Uma igreja da Amazônia
em conflito com o latifúndio e a marginalização social.” E foi um
grito! Porque escrevíamos dando nomes aos bois… Isso provocou mais presença da
repressão.”
“Ação Cívica e Social do Exército”
“Nós
tivemos aqui na região quatro operações da ACISO. “Ação Cívica e Social do
Exército.” Que vinha para esses interiores arrancar dentes e consultar… Vinham
de fato inspecionar. Porque abrangia a área estrita da Prelazia.”
“Vasculhavam
as nossas casas… Exigiam a prisão… Levavam os agentes de pastoral presos e
torturados para o Quartel do Exército de Campo Grande. Porque tudo era
suspeito… Havia um clima de terror nessas regiões todas.”
“O povo foi torturado como cúmplice”
“Muitos
anos depois, o povo se sentia livre para agir, para conversar. Em certas
celebrações que tivemos, ainda havia uma reticência. Porque, além dos
guerrilheiros que foram mortos, o povo foi torturado, maltratado como cúmplice…
Os guerrilheiros tinham criado amizades, alguns eram médicos, professores.”
“Os índios sobram frente ao agronegócio”
Quanto aos
índios, “já era uma atitude que continuava a política toda da colonização… Os
índios sobravam. E estamos no mesmo problema… Sobram frente ao agronegócio.
Porque a política indígena, a cosmovisão indígena, a cultura indígena, a
economia indígena… É contrária à política e à economia do agronegócio. Por
isso, eu dizia que tivemos problema na defesa desses três grupos de pessoas Os
povos indígenas, os posseiros e os peões.”
“O problema é ter medo do medo”
“Detectamos
o trabalho escravo. E o denunciamos… Foi aqui onde primeiro se denunciou o
trabalho escravo.” Perguntado se em algum momento teve medo de morrer, o bispo
do Araguaia não hesitou:
“Vários!
Ainda agora, por exemplo… Essa situação dos intrusos, os que comandam a
intrusão (de terras indígenas, clique aqui para
conferir reportagem do QTMD? sobre o assunto). Acham que a culpa principal é minha
por eu ter defendido esses índios.”
“Mas (na
ditadura) éramos todos ameaçados… Eu tenho uma significação por ser bispo.
Lógico… Eu digo sempre que o problema não é ter medo… O problema é ter medo do
medo, (porque o medo) é uma reação defensiva.”
A morte do padre Burnier
Casaldáliga
e o padre João Bosco Burnier, assassinado por um policial, estavam numa
delegacia para defender mulheres torturadas. Uma delas é a que aparece na foto
ao lado, observada por Casaldáliga, de óculos. Aquela foi uma das quatro
ocasiões em que o bispo foi quase expulso do Brasil.
“O povo de
Ribeirão Cascalheira derrubou a cadeia e a delegacia. Disseram que eu estava
comandando esta derrubada da cadeia… Cadeia funcionando… E que podiam pedir a
minha expulsão. Eu precisamente tinha saído rapidamente a Goiânia levando a
denúncia da morte do Padre João Bosco (Burnier) e eu já não estava (em São
Félix).”
As três dívidas dos governos
com o povo
“Não há… Não há… Não há Reforma Agrária.”,
enfatiza Dom Pedro Casaldáliga. “A Reforma Agrária supõe Reforma Agrícola
também. Uma política a favor da Agricultura Familiar. Um acompanhamento dos
assentamentos. Se tem feito alguns acordos… Mas não entram no que eu digo…”
“Eu digo
que esses partidos, esses governos todos têm três dívidas: a da Reforma
Agrária; a da Causa Indígena; e a dos Pequenos Projetos. De Agricultura
Familiar, de Mini-Empresas… Têm essa dívida.”
“E com o
capitalismo neoliberal… Com a política da exportação… Se confirma que esses
países da América Latina e o Brasil, particularmente… Estão destinados a serem
exportadores de matéria prima. É ma política contrária completamente às
necessidades do povo.”
“O povo
tenta fazer (a Reforma Agrária)… O MST e outras forças populares tentam gestos
da Reforma Agrária. Mas a política oficial não é da Reforma Agrária.
Insistindo: o que se pede é uma Reforma Agrária que seja uma Reforma Agrícola
também. Porque terra é mais do que terra! Para o índio, sobretudo, é o
habitat.”
“O bispo Pedro é comunista”
“Nós
éramos comunistas, aqui na região, na Prelazia. E se deram casos pitorescos.
Numa ocasião (na ditadura militar), a polícia lá em Santa Terezinha dizendo
que: “O bispo Pedro é comunista”! Um dos camponeses falou: ‘Eu não sei o que é
comunista. Agora, se comunista é ser da comunidade, trabalhar para a
comunidade, o bispo Pedro é comunista’”.
“Os primeiros socialistas se inspiraram no Evangelho”
“No
problema da justiça e da igualdade, estamos na mesma. Por motivos filosóficos,
históricos e de fé… Também se diz: “Estamos no mesmo barco.” E, em certa medida,
é verdade. Estamos no mesmo barco, mesmo que nós acrescentemos o motivo da fé.
A procura da justiça social, da fraternidade universal… Os primeiros
socialistas se inspiraram no Evangelho.”
“Dialético, marxista, humano”
“Por outra
parte, se critica a Teologia da Libertação de ser marxista. Não é marxista.
Porque existem categorias que são comuns… Dizer que os ricos cada vez mais
ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres… Isso é dialético! É marxista! É
humano! Uma consideração humana da realidade dá esse resultado: que os ricos
são cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres.”
Socialização: a prerrogativa para a paz
“Quando
fomos investigados aqui (na ditadura militar)… A Polícia Federal me parou e
perguntava sobre socialismo. Eu dizia: se querem falar de socialismo, vamos
falar de socialização. Se não se socializa a terra… A terra do campo e a terra
urbana. A saúde, a educação, a comunicação… Se não se socializa esses bens
maiores, essenciais… Não haverá paz.”
“Como Jesus optou…”
“Há um
passado, um presente e um futuro (para a Teologia da Libertação). E, em todo
caso, toda verdadeira teologia tem de ser Teologia da Libertação. A teologia
cristã tem que optar pela igualdade fraterna da humanidade. Tem que optar pelos
pobres, pelos pequenos, pelos marginalizados. Como Jesus optou.”
“Enfrentando,
se preciso, as forças do poder. Como Jesus enfrentou as forças do Império
Romano. As forças de uma religião utilizada… As forças do latifúndio na
Palestina. Então… Um cristão que queira ser cristão de verdade tem que fazer
essas opções. Isso chamamos de Teologia da Libertação.”
“A memória histórica tem que servir de lição.”
D. Pedro
Casaldáliga concorda que se investiguem as violações dos direitos humanos que
tenham ocorrido entre 1946 e 1988, como está fazendo a Comissão da Verdade. “Eu
acho que é bom que se abranja também essa outra área.”
“Porque o
perigo de torturar fisicamente e psicologicamente está nas mãos de todos os
governos que sejam mais ou menos ditatoriais. A ditadura foi o momento alto
dessa repressão… Desse abuso de poder. Mas devemos prevenir para qualquer outro
momento.”
O bispo,
porém, discorda da falta de punição aos torturadores: “Deveriam ser punidos. A
memória histórica tem que servir de lição. Não pode ser apenas evocar estaticamente
uns heróis e uns torturadores. Vários países da América Latina têm dado o
exemplo disso”.
América Latina: “Pátria Grande”
Casaldáliga
considera que a América Latina “está melhor hoje do que ontem. Porque temos
governos mais ou menos de esquerda. Porque há uma maior consciência de que
somos um continente.”
“Uma
“Pátria Grande”, como diziam os libertadores. “A nossa América”, diziam eles
também. Eu digo sempre que a América Latina e o Caribe ou se salvam
continentalmente todos ou não se salvam. Tem que ser uma comunidade de nações,
porque temos uma característica especial.”
“Paixão latino-americana”
“Já, em
parte, se está conseguindo que a América Latina não seja tão abertamente o
quintal dos Estados Unidos. Se está dando passos importantes. Quando se fala da
Venezuela, eu digo que, com os erros de Hugo Chávez, tem umas contribuições
significativas. Uma delas é essa paixão latino-americana.”
“O Brasil é outra coisa”
“Custou o
Brasil tomar consciência de que somos América Latina. Pelo idioma… Por uma
certa atitude hegemônica… Que, às vezes, não é suficientemente controlada… O
Brasil é outra coisa.”
Não acredito, mas…
O bispo
não acredita em novo golpe. Ao menos, não nos moldes do que ocorreu em 64. “Nem
aqui nem em outros lugares da América Latina. Mas há outros tipos de golpes…
Por isso, é bom prevenir… Para que as ditaduras não sejam camufladas… Podem ser
ditaduras militares, podem ser ditaduras civis também…”
Os “outros tipos de golpes”…
“O governo
do Paraguai não é legítimo, o governo de Honduras não é legítimo. Evidente. São
golpes de Estado, são ditaduras camufladas a serviço dos interesses do Império.
(o grande capital) Que agora é menos expressivamente dos países… A globalização
os tem metido a todos no mesmo saco.”
“O nosso DNA é ser raça humana”
“Por outra
parte, há um cenário, uma nova consciência de sermos uma unidade. Somos a
família humana. Agora não se pode prescindir do resto do mundo. Sempre temos
dito que o pecado dos EUA é se considerar como ele só no mundo. E o resto é
resto.”
“Agora com
a globalização e suas malezas, e seus abusos… Tem se aberto um espaço… Uma
unidade. A característica primeira é de ser humanos…”
“Eu digo
que o nosso DNA é ser raça humana. Família humana. Existem (“raças”) como
identidade. Mas, dentro dessa identidade, primeiro é o fato de ser
humanos. E toda a verdadeira política se devia dedicar a humanizar a
humanidade.”
“Capitalismo com rosto humano é impossível”
Perguntado
se há possibilidade de haver uma verdadeira democracia dentro do capitalismo, o
bispo do Araguaia foi enfático: “Não! O capitalismo é nefasto. E não tem
solução… O capitalismo é o egoísmo coletivo. É a segregação da imensa maioria.
É o lucro pelo lucro. É a utilização das pessoas e dos povos a serviço de um
grupo de privilegiados. Quando se trata de um “capitalismo com rosto humano” se
está pedindo o impossível. É impossível.”
“A democracia é uma palavra profanada.”
Para D.
Pedro Casaldáliga, não há democracia verdadeira em lugar nenhum do mundo.
“Porque se tem uma democracia formal… Uma democracia, entre aspas, política.
Mas não se tem democracia econômica… Não se tem democracia hênica (étnica). Os
povos indígenas, dentro destes Estados democráticos… São coibidos. São
marginalizados. Se vêem obrigados a reivindicar os direitos que são elementares
para eles. A democracia é uma palavra profanada.”
Quem tem medo da democracia?
“Da
verdadeira democracia… Têm medo todos aqueles que continuam defendendo
privilégios para umas pessoas… Privilégios para uns poucos.”
“Todos
aqueles que fazem da propriedade privada um direito absoluto.”
“Todos
aqueles que não entendem que a propriedade tem uma hipoteca social.”
“Todos
aqueles que considerem que podem existir pessoas, governos e Estados que vivam
de privilégio à custa da dominação e da exploração…”
“Não há liberdade de imprensa”
“A grande
mídia é a mídia dos grandes. Com isso está dito tudo… Não há liberdade de
imprensa. Eu tenho visto jornalistas chorando de raiva porque fizeram matéria e
o editor tergiversou (distorceu) tudo praticamente… Colocando o título tal e
tergiversa (distorce) tudo o que foi dito no texto. Sim. Sim. Tem tido casos
assim.”
Governo Dilma: “obsessão pelos grandes projetos”
“A crítica
que eu faço é dessas três dívidas: A dívida da Reforma Agrária. A dívida da
Causa Indígena. E a dívida dos pequenos projetos. Se faz os grandes projetos…
Belo Monte. São Francisco. Hidrelétricas… Grandes projetos… O Brasil é
destinado a ser uma grande fábrica a serviço deles.”
“Um índio
Carajá dizia uns anos atrás… Numa coletiva de imprensa na Europa: “Eu acho que
o nosso governo está mais interessado em engordar os porcos de obra…” “Do que
em cuidar do seu povo…” Engordar os porcos… Sem recolher a soja… Fazer da soja
a grande exportação. Há uns atrás ele falava… Mas ainda devemos dizer que essa
obsessão pelos grandes projetos… Define em grande parte o governo atual.”
A política internacional vai bem
“Eu
reconheço a história da Dilma. Reconheço as ações de solidariedade que ela está
fazendo… A atitude que se tem adotado com respeito ao Paraguai… A atitude que
se tem adotado com respeito à Venezuela… A atitude que se tem adotado quando se
trata de defender o direito dos povos. Se Equador toma uma decisão, ela é
acolhida ou respaldamos. Sim (a política internacional vai bem). Pela primeira
vez se fez uma política, que buscava a independência com respeito aos EUA.”
“Descalço sobre a terra vermelha”
Quando o
QTMD? esteve em São Félix do Araguaia, estava sendo rodado um filme sobre D.
Pedro Casaldáliga, baseado em livro homônimo. O homenageado se opunha, mas
depois acabou permitindo.
“Eu me opunha de todo jeito. Porque eu tinha
medo de duas coisas: que se partisse para o pedantismo… O culto da
personalidade. E também que não se destacassem bastante… As nossas causas. Por
que estamos aqui? O que defendemos aqui? Por que temos assumido essas
atitudes?”
“Isso de um modo comunitário.
Porque não tem sido eu… Tem sido essas equipes de pastoral… Tem sido o
movimento popular. O povo da região… Que tem lutado, que luta, para vingar seus
direitos.”“Eu fiz questão de não interferir. Deixar liberdade absoluta. Sem
censura. Criticamos a censura, eu não vou fazer censura agora…”
“Tem uma
vantagem, acho, o filme… Ajudará a evocar uma memória que não estava viva,
sobretudo, na juventude… Do governo daquela época. Poderão agora descobrir um
passado, que afeta o presente e o futuro.”
“’Descalço’
quer dizer sem consumismo. Despojado, sem consumo. ‘Sobre a terra vermelha’.
Uma terra ensopada de suor,… Mas também ensopada de sangue. Sangue mártir.”,
finalizou o bispo.
Fonte:
http://quemtemmedodademocracia.com/2012/10/21/d-pedro-casaldaliga-o-problema-e-ter-medo-do-medo-especial-para-o-qtmd/
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